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Vicente Ferreira Pastinha nasceu em Salvador a 5 de abril de 1889, filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe, uma negra natural de Santo Amaro da Purificação, que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana. No prefácio do livro publicado em 1964, intitulado “Capoeira Angola”, de autoria de Pastinha, José Benito Colmenero afirma que Pastinha teve como mestre de capoeira um negro angolano chamado Benedito, que, ao ver o menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho, teria resolvido ensinar-lhe a Capoeira. |
Durante
três anos, Pastinha teria passado tardes inteiras num velho sobrado da
Rua do Tijolo, em Salvador, treinando a movimentação da arte: meia-lua,
rasteira, rabo-de-arraia, etc. Ali teria aprendido a jogar com a vida e a
ser um vencedor.
Mas a maioria dos capoeiristas que o conheceram afirma que seu mestre foi
Aberrê.
Viveu uma infância feliz, porém modesta. Durante as manhãs freqüentava
aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. À
tarde, empinava pipa e jogava Capoeira. Aos treze anos era o moleque mais
respeitado e temido do bairro. Mais tarde, seu pai, que não gostava da
vadiagem do moleque, matriculou-o na Escola de Aprendizes Marinheiros.
Conheceu os segredos do mar e ensinou aos colegas as manhas da Capoeira.
Aos 21 anos, voltou para o centro histórico, deixando a Marinha para se
dedicar à pintura e exercer o ofício de pintor profissional. Suas horas
de folga eram dedicadas à prática da Capoeira, cujos treinos eram feitos
às escondidas, pois no início do século esta luta era crime previsto no
Código Penal da República.
Em fevereiro de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, no
casarão n.º 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira
academia-escola de Capoeira. Disciplina e organização eram regras básicas
na escola de Mestre Pastinha, e seus alunos sempre usavam calças pretas e
camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de
Mestre Pastinha.
Aos 84 anos, muito debilitado fisicamente e quase cego, deixou a antiga
sede da Academia para morar num quartinho velho do Pelourinho, com sua
segunda esposa, Dona Maria Romélia; a única renda financeira que tinha
era a dos acarajés que sua esposa vendia. Morreu aos 92 anos, cego e
paralítico, no abrigo D. Pedro II, em Salvador, numa sexta-feira, 13 de
Novembro de 1981, vítima de uma parada cardíaca.
Pequeno e notável em sua arte, Mestre Pastinha nos deixou seus
ensinamentos de vida em muitas mensagens fortes e inesquecíveis como esta:
"Ninguém pode mostrar tudo o que tem. As entregas e revelações
tem que ser feitas aos poucos. Isso serve na Capoeira, na família e na
vida. Há momentos que não podem ser divididos com ninguém e nestes
momentos existem segredos que não podem ser contados a todas as
pessoas."
Pastinha foi “o primeiro capoeirista popular a analisar a capoeira como
filosofia e a se preocupar com os aspectos éticos e educacionais de sua
prática”[1].
Pastinha foi uma das figuras mais queridas de toda a Salvador, por sua
extrema devoção à capoeira. Mesmo depois de idoso, jogava capoeira como
um jovem exímio, executando sua movimentação com perfeição e
agilidade. De Mestre Pastinha, já disseram ser...
“o guardião da liberdade de criação,
da inocência dos componentes lúdicos,
da beleza da coreografia...
... o gênio que desvendou
em palavras simples e puras
os aspectos místicos da capoeira.
Será sempre simbolizado pela ‘Chamada’,
com que arrefecemos o calor da disputa
entre vontades que se contrapõem.
A Mão Amiga estendida para o Alto,
lembrando...
...Somos todos Irmãos à luz do MESTRE
A Paz entre os Capoeiristas de Boa Vontade."
“o guardião da liberdade de criação,
da inocência dos componentes lúdicos,
da beleza da coreografia...
... o gênio que desvendou
em palavras simples e puras
os aspectos místicos da capoeira.
Será sempre simbolizado pela ‘Chamada’,
com que arrefecemos o calor da disputa
entre vontades que se contrapõem.
A Mão Amiga estendida para o Alto,
lembrando...
...Somos todos Irmãos à luz do MESTRE
A Paz entre os Capoeiristas de Boa Vontade."
A lição do velho Benedito
Conforme as palavras do próprio mestre que dizia ter aprendido a capoeira com a sorte...
"Quando
eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais
taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na
venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga.
Só sei que acabava apanhando dele, sempre”. Um dia, da janela de sua casa, um velho africano de nome Benedito, que sempre assistia as lutas de pastinha disse: “Vem cá, meu filho. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui".
Só sei que acabava apanhando dele, sempre”. Um dia, da janela de sua casa, um velho africano de nome Benedito, que sempre assistia as lutas de pastinha disse: “Vem cá, meu filho. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui".
Este
foi o início de mestre Pastinha na capoeira. Vicente Ferreira Pastinha
nasceu em cinco de abril de 1889. Fruto da união entre um espanhol, José
Señor Pastinha e de uma baiana, Eugênia Maria de Carvalho, nasceu na
Rua do Tijolo em Salvador, Bahia.
Depois que o menino conheceu o velho Benedito, passou a
frequentar a sua casa todos os dias, treinando e aprendendo as mandingas
dos escravos, até que certa vez se encontrou com seu rival mas desta
vez foi diferente. Pastinha acabou levando a melhor deixando o menino no
chão e sem entender nada. Dizem os relatos que acabaram tornando-se
amigos depois.
Durante
esse período, o menino pastinha também frequenta o Liceu de Artes e
Ofício, onde aprende entre outras coisas a arte da pintura. Em 1902
Pastinha entra para e escola de aprendizes marinheiros, onde passaria
oito anos de sua vida. Lá ele ensina a arte da Capoeira aos seus colegas
e aprende também a arte da esgrima e a tocar violão. Em 1910, deu baixa
na marinha, com 21 anos, resolvido a se dedicar à pintura e ao ensino
da capoeira (às escondidas porque a capoeira ainda era proibida pelo
código penal), neste período começa a ensinar o seu primeiro aluno:
“Raimundo Aberrê”, que conforme mestre Pastinha ia todos os dias à sua
casa aprender a capoeira. De 1913 a 1934, Mestre Pastinha se afasta da
capoeira devido à forte repressão da época que mantinha a sua prática na
ilegalidade. Nesse tempo, mestre Pastinha que sempre desejou viver da
sua arte, teve que trabalhar como, pintor, pedreiro, entregador de
jornais e até tomou conta de casa de jogos. Este último relatado por ele
próprio:
“Passei
a tomar conta de casa de jogo. Para manter a ordem. Mas mesmo sendo
capoeirista eu não descuidava de um facãozinho de doze polegadas e de
dois cortes que trazia comigo. Jogador profissional daquele tempo andava
sempre armado. Assim quem estava sem arma nenhuma no meio deles bancava
o besta. Vi muita arruaça, algum sangue, mas não gosto de contar causos
de briga minha.”
A primeira academia
Em
1941 Mestre Pastinha é convidado pelo seu antigo aluno Aberrê a
assisti-lo numa roda no bairro da Gengibirra, onde segundo o mestre, era
um ponto de encontro dos maiores mestres de capoeira da Bahia. “Lá só
havia mestre, não tinha alunos” – dizia Pastinha. Aberrê disse que
perguntaram quem tinha sido seu mestre e ele dizendo o nome de Pastinha
mandaram chamá-lo ao qual Aberrê imediatamente o fez. Ao chegar à roda,
Pastinha foi apresentado para um mestre conhecido como “Amorzinho”, um
guarda civil que tomava conta da roda e imediatamente entregou o
berimbau e a responsabilidade para o mestre. Estavam lançadas as
sementes do que seria a primeira escola de Capoeira Angola. Foi fundado
então o CECA, Centro Esportivo de Capoeira Angola, nome dado pelo
próprio mestre, localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco. Após a
morte de Amorzinho, em 1943, o centro foi abandonado por todos os
mestres, mas mesmo assim Pastinha continuou.
Em
fevereiro de 1944 há uma reorganização e em 23 de março do mesmo ano
vão para o Centro Operário da Bahia. Em 1949, num domingo Pastinha foi
convidado por dois camaradas para ver um terreno na fábrica de sabonetes
Sicool no Bigode, onde recebeu o apoio e auxilio dos moradores. O
centro ali se instalou e foram feitas as primeiras camisas em preto e
amarelo, cores inspiradas no Clube Atlético Ypiranga, clube muito
querido pelo mestre e pelas classes sociais mais populares de Salvador.
Uma das curiosidades dessa época é que Mestre Pastinha, avaliando cada
um dos seus alunos, fazia um desenho na camisa, conforme os seus
movimentos mais característicos.
Enfim o reconhecimento
Finalmente em 1° de outubro de 1952 o CECA foi oficializado. Veja o artigo original abaixo:
“O
Centro Esportivo de Capoeira Angola, fundado a 1° de Outubro de 1952,
com sede na cidade de Salvador, Estado da Bahia, é constituído de número
limitado de sócios, tem a finalidade de ensinar, difundir e desenvolver
teórica e praticamente a capoeira de estilo genuinamente “Angola”, que
nos foi legada pelos primitivos africanos aportados aqui na Bahia de
Todos os Santos.”
Em
maio de 1955, o CECA muda de endereço e vai para o Largo do Pelourinho
n° 19, onde permaneceu por 16 anos. Durante esse tempo Mestre Pastinha
ficou muito conhecido chegando a ser entrevistado por jornais e revistas
importantes da época. Sua academia recebia visitas ilustres como, Jorge
Amado, o ilustrador Carybé, o filósofo Jean Paulo Sartre, o ator Jean
Paul Belmondo, além de turistas de todo o Brasil.
Em
cinco de julho de 1957, Mestre Pastinha apresenta a capoeira angola com
seus alunos no festival Bahiarte, na Lagoa do Abaeté onde ocorre o seu
primeiro encontro com Mestre Bimba. Os dois demonstraram passividade e
respeito um pelo outro, deixando transparecer que a rivalidade entre os
angoleiros e regionais, era criada pelos alunos e não pelos Mestres. O
CECA ainda foi apresentado em vários outros estados, como, Pernambuco,
Minas-Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 1964 o Mestre publica o seu livro intitulado “Capoeira Angola”, onde o escritor Jorge Amado teve o prazer de escrever:
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O mestre e Jorge Amado |
“...
mestre da Capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta
civilização, homem do povo com toda a sua picardia, é um dos seus
ilustres, um dos seus abas, de seus chefes. É o primeiro em sua arte.
Senhor da agilidade e da coragem, da lealdade e da convivência
fraternal. Em sua escola no pelourinho, Mestre Pastinha constrói cultura
brasileira, da mais real e da melhor...”
Além do livro, o mestre gravou também um disco com cinco faixas. O disco intitulado “Pastinha Eternamente”,
conta com depoimentos na voz do próprio mestre e músicas de capoeira,
cantadas por Mestre Traíra. Este disco é simplesmente uma raridade e
está disponível para download na internet. No final do post
disponibilizarei o link para o download.
Em
abril de 1966, integrou a delegação brasileira no 1° Festival de Artes
Negras, no Senegal, Dakar na África, onde recebe várias homenagens e
confirma que na África não existe qualquer coisa que se pareça com a
nossa capoeira. Com todo esse destaque Mestre Pastinha começa a receber o
apoio de várias instituições governamentais até que em 1971 o destino
(ou o sistema) lhe pregaria uma grande peça.
O golpe, a ingratidão, o descaso
Em
1971 aos oitenta e dois anos de idade, Pastinha já quase cego por causa
de uma catarata, é obrigado pela prefeitura a se retirar do casarão,
que entraria em reformas, com a promessa de que assim que estivesse
pronto poderia voltar. E voltou?
Mestre
Pastinha teve então que se mudar. Foi morar na Rua Alfredo Brito n° 14
no Pelourinho, em um quarto escuro, úmido e sem janelas. Único lugar que
dava para pagar com o mísero salário que recebia da prefeitura, já que
não podia contar mais com o dinheiro das aulas. Ainda na mudança, foram
perdidos muitos móveis, quadros que o mestre pintava e fotografias, que
juntos hoje, constituiriam um grande acervo cultural da nossa história.
Para
piorar o prédio foi doado para o Patrimônio Histórico da Fundação do
Pelourinho que posteriormente o vendeu para o SENAC que transformou o
prédio em um restaurante.
Este foi um dos maiores absurdos praticados contra a nossa cultura. Mestre Pastinha foi usado, enganado e abandonado.
Tristeza
Após
a mudança e a perda de sua academia, Pastinha entra em uma profunda
depressão e em 1979 com 90 anos é vítima de um derrame cerebral, que o
levou a ficar internado por um ano em um hospital público. Após esse
período foi enviado para o abrigo para idosos Dom Pedro II, onde
permaneceu até a sua morte. Mestre Pastinha morreu cego, quase
paralítico e abandonado.
No
dia 13 de novembro de 1981, aos 92 anos, o Brasil perdia um dos seus
maiores mestres. Não só o mestre da capoeira angola, mas o mestre da
filosofia popular. O menino fraco e magrinho que conquistou o respeito e
admiração do mais forte.
A estrela ainda brilha
Mestre
Pastinha foi um dos maiores ícones da cultura do Brasil. Dedicou sua
vida inteira em favor da nossa cultura, ajudou a tirar a capoeira da
ilegalidade e a colocá-la no seu devido lugar como prática esportiva e
cultural, preservou e divulgou a nossa arte até fora do país, ensinou
jovens e adultos a enxergar a vida de uma forma simples, mas nobre.
Mestre Pastinha foi uma estrela que veio para a terra em forma de homem,
para nos ensinar a filosofia da simplicidade, mas teve que voltar ao
céu, pois o seu brilho já não cabia mais aqui em um lugar tão pequeno.
Um homem que transformou e formou crianças em grandes adultos e fez os
mais velhos brincarem como crianças, literalmente de pernas pro ar.
Os frutos
Os
mais antigos discípulos do mestre em atividade são: Mestre João
Pequeno, que reabriu o CECA um ano depois da morte de Pastinha, no Forte
de Santo Antônio do Carmo e Mestre João Grande, que reside em Nova York
desde 1990, onde ensina capoeira para pessoas do mundo todo.
Hoje
a memória de Mestre Pastinha continua viva nas rodas de capoeira que se
espalharam pelos quatro cantos do mundo. E em cada uma dessas rodas,
onde são entoadas as ladainhas da Capoeira Angola, Mestre Pastinha está
lá.
AXÉ
Obras póstumas
Em
2000 foi lançado em VHS um documentário sobre a vida do mestre chamado
“Pastinha uma vida pela capoeira”, sendo relançado em DVD em 2009 com
extras inéditos e disponível em vários idiomas. O DVD pode ser
encontrado em lojas de artigos para capoeira e nas melhores livrarias.
[1] MESTRE DECÂNIO,
Fonte: A
Herança de Mestre Pastinha, Coleção São Salomão, Salvador,
1996.
Mestre Bimba
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Mestre Bimba: Manoel dos Reis Machado nasceu em Salvador, Bahia, a 23 de novembro de 1900, no bairro do Engenho Velho, freguesia de Brotas. Seu apelido ele ganhou logo que nasceu, segundo ele, em virtude de uma aposta feita entre sua mãe e a parteira. Sua mãe, dona Maria Martinha do Bonfim, dizia que daria luz a uma menina. A parteira afirmava que seria homem. Apostaram: perdeu dona Maria e o filho, Manoel, ganhou o apelido que lhe acompanharia pela vida inteira (Bimba é como se conhece na gíria da Bahia o órgão genital masculino). Era filho de Luís Cândido Machado, batuqueiro famoso do bairro (batuque - "a luta braba, com quedas, com a qual o sujeito jogava o outro no chão" -). Começou a aprender capoeira com 12 anos de idade, na antiga Estrada das Boiadas, hoje bairro da Liberdade, em Salvador, com um africano chamado Bentinho, capitão da Cia. de Navegação Baiana. |
"Naquele tempo, Capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandros. Eu era estivador, mas fui um pouco de tudo. A Polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado. Imagine só que um dos castigos que davam a capoeiristas que fossem presos brigando era amarrar um punho num rabo de cavalo e o outro em cavalo paralelo; os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada até o quartel. Comentavam até, por brincadeira, que era melhor brigar perto do quartel, pois houve muitos casos de morte. O indivíduo não agüentava ser arrastado em disparada pelo chão e morria antes de chegar ao seu destino: o quartel de polícia."
Depois, descontente com a descaracterização pela qual passava a capoeira, transformada em "prato do dia" para pseudo-capoeiristas, que a utilizavam apenas em exibições nas praças, para os turistas, Mestre Bimba introduziu modificações importantes nos códigos da capoeira, vindo por isso a ser chamado de “o Lutero da Capoeira”.
Foi o primeiro capoeirista a constituir academia de capoeira, em 1932, no Engenho Velho de Brotas, e o primeiro a conseguir registro oficial do governo para a sua academia, chamada Centro de Cultura Física e Luta Regional, “num período em que o Brasil caminhava para o pleno regime de força e que as leis penais consideravam os capoeiristas como delinqüentes perigosos” (teve o cuidado de retirar a palavra "Capoeira" da academia que fundou). O ensino de sua capoeira foi qualificado pela então Secretaria da Educação, Saúde e Assistência Pública como ensino de educação física. Suas inovações (entre as quais a introdução de uma metodologia de ensino) originaram uma “nova visão de mundo” no ambiente da capoeira. A partir de suas modificações a Capoeira começou a ganhar alunos da classe média branca. Mestre Bimba deu ares atléticos ao jogo e atraiu as mulheres, até então excluídas das rodas.
O Criador da Capoeira Regional
Manoel dos Reis Machado, mestre Bimba começou a ensinar em 1918, quando ainda praticava capoeira(que depois criação da Regional veio se chamar de Angola). Seus alunos eram negros e mulatos das classes populares. Mas apesar da pouca idade(18 anos), possuía alunos também de classes privilegiada, como o Desembargador Décio dos Santos Seabra, da família do ex-governador Seabra ; Dr. Joaquim de Araújo Lima , jornalista(Imparcial e Nova Era) e mais tarde governador de Guaporé. Para estes e outros, as aulas eram particulares nos quintais e varandas de suas casas. Monteiro Lobato enviou-lhe uma carta elogiando sua persistência em elevar a capoeira aos níveis atuais, e um livro de sua autoria no qual estava incluso o '22 de Marajó', que contava as façanhas de um marujo capoeirista.Mestre Bimba um dos capoeiristas mais conceituados em sua época, carismático, lutador temido e jamais vencido em inúmeros desafios e combates públicos, "cantador" e percussionista admirável, discriminado por grande parte dos artistas e intelectuais de Salvador e venerado por seus alunos, realizou uma verdadeira revolução ao criar Capoeira Regional(motivo da discriminação dos artista e intelectuais). Passou a ensinar capoeira – agora chamada luta regional baiana e mais tarde capoeira regional – priorizando as pessoas de nível social mais alto e universitários; isto tiraria a capoeira da marginalidade, e economicamente era muito mais interessante. Abriu sua academia em 1930 (com o alvará saindo em 09/07/1937), sendo a primeira academia de capoeira da história e a quinta termos gerais do Brasil. Recebeu do inspetor técnico de Ensino Secundário profissional, o titulo de registro "que lhe requereu o Sr. Manoel dos Reis Machado, diretor do curso de Educação Física, sito à rua Bananal, 4.
Sobre as inovações introduzidas por Mestre Bimba na capoeira muitos não aceitaram e apenas viram como descaracterização da capoeira que existia. Ele transformou a capoeira, usada para ataque e defesa, praticada por desordeiros e pessoas de classes mais humildes, numa luta com método de ensino próprio tornando-a um verdadeiro curso de Educação Física e criando rituais como: Batizado, Formatura e Especialização, seguindo padrões sociais e acadêmicos, pela própria nomenclatura. Conseguindo assim um grande número de adeptos em todas as classes principalmente entre os universitários, ou seja Mestre Bimba é o responsável pelo interesse de novas classes sociais pela capoeira.
Mestre Bimba também deixou registrado em vinil a sua Regional, gravou um LP chamado Curso de Capoeira Regional, que contém cantigas e os toques de berimbau da Regional, sendo uma referencia para quem quer saber esses, também acompanha um livrete com a biografia do mestre e alguns golpes e movimentos da Regional.
Em 1930 apareceu em sua academia um funcionário do governo que entregou um oficio convidando-o a comparecer ao palácio. Bimba pensou que ia ser preso, pois a capoeira ainda era muito descriminada, mas para sua surpresa o governador/interventor Juraci Magalhães queria apenas que e seus alunos se exibissem para alguns convidados.
Em 1949, seus alunos realizam cinco lutas com lutadores de luta livre em São Paulo, vencendo três por nocaute.
Em 1953, é cumprimentado pelo presidente da Republica, Getúlio Vargas, no palácio do governo em Salvador.
Em 1956, na festa de inauguração da TV Record, em SP, e no mesmo ano na ABI e no Maracanãzinho, no Rio.
Em 1968, apresentou-se com seus alunos para três mil pessoas na Exposição de Pecuária de Teófilo Otôni, em Minas.
Em 1969, vai ao II Simpósio Nacional de Capoeira, no Rio, patrocinado pela Comissão de Desportos da Aeronáutica, mais fica só um dia dizendo "aquilo não ia dar em nada". No I Simpósio ele havia enviado o Mestre Decânio
Apesar da sua simpatia pelo PC(Partido Comunista), Bimba lecionou muito tempo nos meios militares, em 1930 alunos do CPOR entraram em contato e requisitaram seu Curso de Capoeira Regional, queriam que Bimba desse aulas do forte do Barbalho. Ele foi contra sua vontade, devido aos problemas que os capoeiristas e as classes menos favorecidas tinham com a polícia. Após o primeiro momento e sentindo que financeiramente era um bom negócio, ele deu o curso e se tornou um instrutor muito solicitado por elementos das Forças Armadas. O que mais fascinava os militares era o curso de emboscadas.
Antes de ir para Goiânia, Bimba formou sua última turma, uma formatura muito comentada chamada 'formatura do adeus' depois deste evento ele deixou a Bahia dizendo 'Não voltarei mas, aqui nunca fui lembrado pelos poderes públicos; se não gozar nada em Goiânia, vou gozar do cemitério.' Depois que ele se foi veio a Salvador apenas duas vezes e dizendo que estava tudo bem, mas dona Nair nos disse 'ele foi enganado. Não volta porque é orgulhoso'. Em 05 de fevereiro de 1974 um ano depois que deixou a Bahia, morria o mestre Bimba e foi enterrado em Goiânia. Transladar os restos mortais de Goiânia para Salvador foi difícil, os seus alunos achavam que o lugar dele era Bahia "ídolo não se pertence, pertence ao seu Público."
Fonte: Biografia de Mestre Bimba.
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