segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Historia da Capoeira

Sejam bem vindos ao nosso Blog, estou contribuindo com um pouco de artigos para que os capoeiras se informem cada vez mais, além de mantermos nossa tradição, peço aos professores do grupo que ao lerem e encontrarem algum erro favor comunicar para devida correção, estarei sempre colocando material de estudo para todos.
Esse texto esta incompleto colocarei o restante na próxima semana, esse trecho foi  retirado do livro "A Arte da Capoeira" de Camille Adorno.
Muito obrigado a todos, a Deus e ao meu Mestre axé camaradas.
Att:Professor Golfinho
Jair Maia.


Histórias da Capoeira



Fornecendo elementos para a história do Brasil, a história do jogo da
Capoeira se fez presente em todos os períodos, desde a colônia. Inúmeros
Memorialistas e cronistas de costumes fixaram a imagem de capoeiras
Célebres e suas peripécias.
À época do Brasil colonial, a presença da Capoeira já se encontrava
de tal forma sedimentada na sociedade que os capoeiras passaram a formar
uma classe. Premidos pelas circunstâncias, faziam usos variados da
habilidade que a arte lhes conferia. Com o emprego de diversos
instrumentos de ataque e defesa, passaram a prestar serviços aos membros
das classes dominantes, que deles se serviam para a execução de crimes
que garantiam a continuidade no poder.
O cronista Luiz Edmundo fez interessante registro do capoeira dessa
época, em ‘O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis’, retratando o
Capoeira Carioca: “De volta, pelo caminho que vai à vala, penetramos a
rua dos Ourives, das de maior concorrência na cidade.
'À porta do estanco de tabaco está um homem diante de um frade
nédio e rubicundo. Mostra um vasto capote de mil dobras, onde a sua figura
escanifrada mergulha e desaparece deixando ver apenas, de fora, além de
dois canelos finos, de ave pernalta, uma vasta, uma hirsuta cabeleira, onde
naufraga em ondas tumultuosas alto feltro espanhol.
'Fala forte. Gargalha. Cheira a aguardente e discute. É o capoeira.
'Sem ter do negro a compleição atlética ou sequer o ar rijo e sadio do
reinol é, no entanto, um ser que toda a gente teme e o próprio quadrilheiro
da justiça, por cautela, o respeita.
'Encarna o espírito da aventura, da malandragem e da fraude; é
sereno e arrojado e na hora da refrega ou da contenda, antes de pensar na
chupa ou na navalha, sempre ao manto cosida, vale-se de sua esplêndida
destreza, com ela confundindo e vencendo os mais armados e fortes
contendores.
'Nessa hora o homem franzino e leve transfigura-se. Atira longe o
seu feltro chamorro, seu manto de saragoça e aos saltos, como um símio,
como um gato, corre, recua, avança e rodopia, ágil, astuto, cauto e
decidido. Nesse manejo inopinado e célere, a criatura é um ser que não se
toca, ou não se pega, um fluido, o imponderável, pensamento, relâmpago.
Surge e desaparece.
'Mostra-se de novo e logo se tresmalha. Toda sua força reside nessa
destreza elástica que assombra e diante da qual o tardo europeu vacila
atônito, o africano se trasteja.
'Embora na hora da luta traga ele entre a dentuça podre o ferro da
hora extrema, é da cabeça, braço, mão e perna ou pé que se vale para abater
o êmulo minaz.
'Com a cabeça em meio aos pulos em que anda, atira a cabeçada
sobre o ventre daquele com quem luta e o derruba. Com a perna lança a
trave, o calço. A mão joga a tapona e com o pé a rasteira, o pião e ainda o
rabo de arraia.
'Tudo isso numa coreografia de gestos que confunde. Luta com dois,
com três, e até quatro ou cinco. E os vence a todos. Quando os
quadrilheiros chegam com suas armas e os seus gritos de justiça, sobre o
campo de luta nem traço mais se vê do capoeira feroz que se fez nuvem,
fumaça e desapareceu.
'Na hora da paz ama a música, a doçura sensual do brejeiro lundu,
dança a fofa, a chocaina e a sarambeque pelos lugares onde haja vinho,
jogo, fumo e mulatas. Freqüenta os pátios das tabernas, os antros da maruja
para os lados do Arsenal. Usa e abusa da moral da ralé, moral oblíqua,
reclamando pelourinho, degredo e às vezes, forca.
'Tem sempre por amigo do peito um falsário, por companheiro de
enxerga um matador profissional e por comparsa, na hora da taberna, um
ladrão. No fundo, ele é mau porque vive onde há o comércio do vício e do
crime. Socialmente, é um cisto, como poderia ser uma flor. Não lhe faltam,
a par dos instintos maus, gestos amáveis e enternecedores. É cavalheiresco
para com as mulheres. Defende os fracos. Tem alma de Dom Quixote. E
com muita religião. Muitíssima. Pode faltar-lhe ao sair de casa o aço
vingador, a ferramenta de matar, até a própria coragem, mas não esquece
do escapulário sobre o peito e traz na boca, sempre, o nome de Maria ou de
Jesus.
'Por vezes, quando a sombra da madrugada ainda é um grande capuz
sobre a cidade, está ele de joelhos, compassivo e piedoso, batendo no peito,
beijando humildemente o chão, em prece, diante de um nicho iluminado,
numa esquina qualquer. Está rezando pela alma do que sumiu do mundo,
do que matou.
'É de crer que, como sentimento, o capoeira é realmente um tipo
encantador...”
Muitos dos nossos escritores empolgaram-se com a Capoeira e seus
adeptos. Joaquim Manuel de Macedo, em Memórias de Um Sargento de
Milícias; Aluízio de Azevedo, em O Cortiço, são alguns dos que buscaram
retratar cenas do período em que capoeiras pontificavam, nas suas lutas.
Consta que possuía D.Pedro I um capoeira como guarda-costas,
servindo-lhe de proteção em suas andanças noturnas. E não eram poucos os
nobres que dominavam recursos da Capoeira. Os negros encarregados dos
serviços domésticos muitas vezes ensinavam aos sinhozinhos alguns de
seus segredos. Cada vez mais o jogo era praticado, rompendo todas as
barreiras.
O capoeira dessa época tinha por escola as praças, ruas e corredores.
Formavam bandos perigosos, que se davam a conhecer entre si pelas
características dos chapéus, lenços, roupas, fitas e tantas convenções
quanto era possível imaginar.
Melo Moraes Filho, em Festas e Tradições Populares do Brasil, fala
a respeito dos grupos que formavam - as maltas - e suas proezas ao tempo
do Império: “A categoria de chefe da malta só atingia aquele cuja valentia o
tornava inexcedível e de chefe dos chefes o mais afoito entre estes, mais
refletido e prudente.
'Os capoeiras, até quarenta anos passados, prestavam juramento
solene e o lugar escolhido para isso eram as torres das igrejas. As questões
de freguesia ou de bairro não os desligavam, quando as circunstâncias
exigiam desagravo comum; por exemplo: um senhor, por motivo de
capoeiragem, vendia para as fazendas um escravo filiado a qualquer malta;
eles reuniam-se e designavam o que havia de vingá-lo.
'No tempo em que os enterramentos faziam-se nas igrejas e que as
festas religiosas amiudavam-se, as torres enchiam-se de capoeiras, famosos
sineiros que montados na cabeça dos sinos acompanhavam toda a impulsão
dos dobres, abençoando das alturas o povo que os admirava, apinhado nas
praças ou nas ruas.”
Em seguida, passa o memorialista a descrever alguns movimentos da
Capoeira, com riqueza de detalhes que nos leva a supor não lhe serem
desconhecidos os segredos dessa arte.
“A capoeiragem antiga e a moderna tem a sua gíria e sua maneira de
expressão, pela qual são compreendidos os lances do jogo. Deveras
arriscados, difíceis e dependendo de rapidez e hábito, não é sem longa
prática que conseguem tais contendores fazerem-se notáveis. Para darmos
uma pálida idéia da gíria e do jogo, ajustamos por aquela algumas
evoluções deste. Um dos preparativos mais rudimentares do capoeira é o
‘rabo de arraia’. Consiste ele na firmeza de um pé sobre o solo e na rotação
instantânea da perna livre, varrendo a horizontal, de sorte que a parte dorsal
vá bater no flanco do contendor, seguindo-se após a cabeçada ou a rasteira,
infalíveis corolários da iniciação do combate.
'Por ‘escorão’ entendem eles amparar inesperadamente o pé de
encontro ao ventre do adversário, o que é um subterfúgio que difere do ‘pé
de panzina’, que é o mesmo resultado porém feito não como um recurso do
jogo, mas deixando à destreza tempo de varrê-lo.
'O ‘passo a dois’ (gíria moderna) é um sapateado rápido que antecede
à cabeçada e a rasteira, da qual o acometido se livra armando o ‘clube x’,
que quer dizer o afastamento completo das tíbias e união dos joelhos, que
formando larga base, estabelece equilíbrio, recebendo no embate o salto da
botina, que ainda ofende o adversário.
'O ‘tombo da ladeira’ é tocar no ar, com o pé, o indivíduo que pula; a
‘rasteira a caçador’ é o meio ginástico de que servem-se para - deixando-se
cair sobre as costas, ao mesmo tempo que firmam-se sobre as mãos -
derrubarem o contrário imprimindo-lhe com o pé violenta pancada na
articulação tíbio tersianal.”
Em seu relato Melo Moraes traça ainda um retrato de fatos sociais do
Rio de Janeiro e da intensa repressão policial à Capoeira, associada de tal
forma à criminalidade, que capoeiragem se tornou a denominação oficial,
quase substituindo o original capoeira.
“As escolas de capoeiragem multiplicavam nesta cidade, pertencendo
cada turma de discípulos a esta ou aquela freguesia.
'Desde a dos caxinguelês, meninos que iam à frente das maltas
provocar inimigos, até a dos mestres que serviam para exercícios
preparatórios, esses cursos regulares funcionavam sendo os mais
freqüentados o da Praia do Flamengo, o do morro da Conceição, o da Praia
de Santa Luzia, não falando nas torres das igrejas - ninhos atroados de
capoeiras de profissão.
'Alistados nos batalhões da guarda nacional os capoeiras exerciam
poderosa influência nos pleitos eleitorais, decidiam das votações, porque
ninguém melhor do que eles arregimentavam votos, emprenhavam urnas,
afugentavam votantes, etc.
'Muitos dos comandantes dos corpos e grande parte dos aficionados
entendia do jogo, ou eram habilíssimos na arte.
'Os desafios entre as freguesias transmitiam-se por meio de pancadas
de sino convencionais e em horas determinadas. Os combates davam-se nas
praças, nas ruas, em sítios mais ou menos distantes e desertos.
'Às vezes, interrompendo a marcha de uma procissão, o desfilar de
um cortejo, ouvia-se, aos gritos das senhoras correndo espavoridas, dos
negros levando senhores moços ao colo, dos pais de família pondo no
abrigo a mulher e os filhos, o horroroso ‘Fecha! Fecha!’. Os caxinguelês
voavam na frente, a capoeiragem disparava indômita, seguindo-se aos
distúrbios cabeças quebradas, lampiões apedrejados, facadas, mortes, etc...
'A polícia, amedrontada e sem força, fazia constar que perseguia os
desordeiros, acontecendo raríssimas vezes ser preso este ou aquele que
respondia a processo.

1ª Parte
Fonte
: Livro A Arte da Capoeira 
Autor: Camille Adorno.

2 comentários:

  1. Caros Grande e Golfinho, parabéns pelo blog e pelos textos! A iniciativa é muito válida. Faço uma humilde sugestão: Escrevam posts sobre momentos que marcaram a história do grupo. Batizados, "aquela roda", "aquele jogo", um evento, uma participação do grupo em algum movimento.. essas coisas. Seria legal também (se houverem) ilustrar com fotos. Axé e grande abraço de quem vos acompanha!

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  2. Valeu meu caro!
    Sugestão aceita e em breve vai esta postado!
    Grande abraço, esperamos você para uma boa Angolinha!

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